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Micro e pequenas empresas podem (e devem) fazer branding
Mesmo com orçamento curto e pouco tempo é possível implementar a gestão da sua marca - saiba como fazer
Três décadas atrás, poucos brasileiros falavam sobre alimentos orgânicos. O tema ainda transbordava algo de alternativo e exótico. Foi exatamente nesta época que um casal de agricultores holandeses resolveu dar o pontapé inicial naquele que seria seu projeto de vida, o Sítio A Boa Terra.
Localizado na região de Itobi, entre Campinas e Ribeirão Preto, no Estado de São Paulo, o sítio produz e revende - em domicílio - alimentos frutas, legumes e verduras orgânicos, livres de agrotóxico.
“Fomos pioneiros no cultivo de orgânicos e depois também no sistema de entregas em domicílio, mas agora temos muitos concorrentes nesse mercado e é importante que estejamos posicionados de uma forma clara”, diz Larissa Mazza, diretora de marketing do Sítio A Boa Terra. “Nós sempre lutamos muito pela causa e continuaremos lutando, mas faltava uma dedicação especial à marca.”
Agora estão pensando em um logo mais arrojado e moderno, que carregue em si todo o conceito “saúde para você e vida para o planeta”, o slogan da marca. “Não queremos perder os nossos valores, que levaram tanto tempo para serem construídos, mas é importante trazer propostas mais atuais. ”
O Sítio A Boa Terra, que não divulga seu o faturamento, é uma empresa de pequeno porte, mas tudo o que planejam fazer nos próximos meses pode ser resumido em uma palavra: branding. É uma forma pomposa, disseminada mundo afora no idioma inglês, de chamar a conhecida gestão de marcas. Larissa pretende mostrar para o público toda a história, o conceito, o propósito e o pioneirismo da marca.
Durante muito tempo, o “branding” teve ares de sofisticação e exclusividade - acabou ficando difícil assimilar que toda e qualquer empresa, a partir de sua criação, está pronta para imprimir a sua digital no mercado.
Quem é micro e pequeno empresário deve imaginar que gerir a marca é coisa para quem tem (muito) dinheiro. Esse é um dos primeiros enganos que fazem com que os pequenos, como o Sítio A Boa Terra, cresçam sem uma identidade pública. Depois de grande, fica ainda mais difícil criar uma cultura fazer com que ela se enraíze na organização. Por isso, o consultor José Roberto Martins, especialista em branding e presidente da Global Brands, acha que quanto mais cedo o empresário começar, melhor. “É ainda mais fácil para as micro e pequenas empresas, especialmente em mercado muito competitivos”, diz. “Sua imagem é tão importante quanto o preço e o lucro.”
Para Martins, esse não é trabalho que precisa, necessariamente, ser feito fora da empresa, por agências terceirizadas. Martins é autor do livro Branding - Um manual para você criar, gerenciar e avaliar marcas, que está disponível gratuitamente no site da Global Brands. Se uma grande agência não cabe no faturamento da empresa, o negócio é investir tempo em muito estudo, pesquisa e reflexão.
O foco é o posicionamento da marca dentro do mercado. Nas palavras de Martins, o primeiro passo é perguntar “o que a minha baiana tem”. Ou seja, qual a identidade da empresa, seja no produto, no atendimento ou na entrega.
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Observe a concorrência e veja o que agrada ou incomoda o consumidor. A partir daí, fica mais fácil pontuar quais são os diferenciais do seu negócio. “É preciso que você mostre para seu público, claramente o que oferece a mais que seus concorrentes”, aconselha Martins. Um exemplo: alguém que vende hotdogs na rua, por exemplo, pode investir em aventais limpos e boa aparência para mostrar ao cliente sua preocupação com a limpeza e qualidade dos produtos.
O jeito de atender o cliente também poderá ser um grande diferencial. Ao passo que um atendimento mais casual pode encantar um público mais descolado, algo mais formal cabe perfeitamente quando o produto ou o cliente é mais sério. Essa é a forma como o empresário mostra para o cliente que ele conhece o perfil a quem está servindo.
Vale lembrar que tudo que você criar deverá ser mantido - de nada adianta um plano de gestão de marca se ele não fizer parte da rotina da empresa e de cada entrega. “Essas questões são tratadas, normalmente, de forma muito rasteira. Quem faz branding direito, tem sucesso.”
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Todo empreendedor tem boas histórias para contar, seja sobre suas origens, lembranças de sucesso ou de fracasso. Essa história pode sim aproximar você de seu consumidor - desde que ela seja verdadeira, caso contrário, usar o chamado storytelling (do inglês, contar histórias) pode advogar contra a marca.
Recentemente, as marcas Diletto e Do Bem se envolveram em uma grande polêmica. O Conar (Conselho de Autorregulamentação Publicitária) abriu uma investigação contra ambas, por contar casos ficcionais como se fossem o histórico o real histórico e procedimento da empresa. O processo ético questiona se os anúncios são honestos e contem apresentação verdadeira do produto oferecido.
Larissa, do Sítio A Boa Terra, conta que a empresa pretende, sim, contar a história do fundador Joop Stoltenborg, que vem de uma família de agricultores. Saiu de casa aos 25 anos, foi para o Canadá e, de lá, chegou ao Brasil em uma longa jornada dentro de um Fusca. “Ele é empreendedor e inovador desde jovem, tem tudo a ver com o conceito do Sítio”, diz a diretora de marketing que quer fugir desse tipo de polêmica.
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É claro que todo empresário quer ganhar dinheiro, mas nem só disso viverá o seu negócio. Ao escolher um ramo de atividade, é importante saber porque aquele negócio se tornou o seu projeto pessoal de empreendedorismo.
“Procure entender por que a sua marca existe”, aconselha o professor Marcos Bedendo, da ESPM, que também é autor do livro Branding para Empreendedores, que será lançado em fevereiro. Ao pensar na motivação para o negócio, é possível chegar a uma proposta de valor agregado ao produto e ao serviço. “Sempre há uma conexão emocional entre o empresário e o negócio dele. É isso que torna um produto ou serviço único.”
Essa é a ponta do fio que alinhava outros tantos esforços da empresa: não só para a gestão da marca, mas para o desenvolvimento de novos produtos e serviços que venham a compor o portfólio da empresa no futuro. “É um ótimo caminho para criar oportunidades.”
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O logo e os nomes da empresa e de cada produto são a ponta do iceberg e, neste caso, procurar um profissional pode ser mais funcional. Alex Sugai, CEO da Dragon Rouge, empresa especializada em branding, explica que criar uma marca nada mais é que associar sua identidade visual a um estudo, a um plano de negócios e um pensamento bem linear, sobre o que e como querem entregar um produto ou serviço.
De saída, Sugai pontua o ponto de partida: “é preciso saber qual é a personalidade, qual o objetivo da marca, onde pretendem chegar e de que valores não abrem mão”. A partir daí, uma identidade visual representativa também vai te ajudar a mandar o recado e acertar em cheio o coração do seu cliente
